Bom, agora já temos subsídios suficientes para compreendermos as dicotomias saussurianas, que impressionaram mais pela sua complexidade que pela novidade no método de abordagem.
O pensamento do mestre à cerca de língua e fala não é simplesmente de que ambos são, juntos, os componentes da linguagem. Seu pensamento vai além, porque aborda a linguagem como algo que se divide em língua e fala, ao mesmo tempo, onde língua e fala se interligam (CLG, 17 e ELG, 24 e 60).
Uma coisa é tomarmos á língua, de forma autônoma, como ponto de partida - e nos formamos ouvindo que essa teria sido a opção saussuriana de abordagem - ou, ainda, investigarmos os fatos da fala isoladamente da língua, outra, é nos obrigarmos a admitir que a língua social, mental, não se perfaz sem a fala de forma que nem a alcançaríamos acaso fossemos uma sociedade áfona. Por isso, acreditou Saussure que a fala, através do signo, organiza o pensamento para a linguagem (CLG, 130/131 e ELG, 45). E fala individual - fenômeno acústico e psíquico - também não pode ser considerada sem a língua. Considerar apenas uma seqüência de ondas sonora - figura vocal - é possível, mas dirá respeito apenas às abordagens da Física.
Fica fácil perceber onde o lingüista amarrou seu burro, afinal, foi justamente diante de um objeto a ser analisado a partir de sua ligação com um outro objeto que, no momento de análise, estão forçosamente amalgamados (ELG, 21/22).
Quem fala emite um som sobre o qual já considerou mentalmente. O som do que se fala, antes de ser físico, buscou uma impressão mental com valor lingüístico; buscou o signo. Só irá falar quem já tem em sua mente uma organização de significados unidos aos significantes de forma arbitrária, e que, apesar disso, não poderiam facilmente se desunir dentro do cérebro. Significado e significante ficam assim, armazenados, esperando a hora de entrarem na ciranda do discurso através da fala. Assim é que se pode afirmar que a língua, nos fatos da linguagem, se encontra na mente do falante; onde estão associados os conceitos às imagens acústicas (CLG, 19/20 e ELG, 22).
Fica assim entendido: Linguagem é o resultado da interação entre língua e fala e não simplesmente da associação, e muito menos da união, entre ambos.
É através da fala que a língua se atualiza e se transmite através do tempo e das pessoas, das comunidades de fala, e que os pensamentos são organizados em signos dentro da mente. E é pela língua que a fala se programa e acontece, ao mesmo tempo, no presente e no passado. A fala projetaria a língua para os fatos da fala; para a comunicação. A língua, por sua vez, resultaria das impressões da fala sobre o exercício mental, do esforço mental em traduzir os pensamentos em signos.
À realização individual da língua através da fala Coseriu (1973:97) chamou norma, que nada mais é que a fala como, de fato, ela é. (Carvalho, 82).
E é isso! Espero você para pensarmos, juntos, a próxima dicotomia saussuriana: Sincronia e Diacronia.
Bibliografia Consultada.
* Além das sugeridas pelo Lingüístic@.com
CARVALHO, Castelar. Para compreender Saussure. Petrópolis-RJ, Vozes, 2002.