Compreender as teorias dicotômicas de Saussure é tão importante quanto o entendimento do que significaram e que contribuições trouxeram não só para o estudo científico da linguagem como, também, para redefinir os pensamentos filosóficos e científicos vigentes até então.
Buscaremos tal compreensão a partir da teoria do signo saussuriano. Porém, se faz necessário saber que, desde a Grécia antiga, o signo vinha sendo motivo de especulações numa tentativa de desvendar a relação língua/pensamento/realidade, e, por isso mesmo, trouxe consigo uma sucessão de conceitos até atualidade.
Inicialmente, entre os gregos pré-socráticos se destacaram as considerações dos panteístas, da Escola de Eléas e Demócrito e seus seguidores:
Os panteístas concebiam o logos como uma inteligência divina que governava o universo. Para eles a palavra possuía uma função divina e também humana. Entendiam que linguagem, pensamento e saber eram inerentes ao homem.
Parmênides, membro da Escola Eleática, fundadora dos princípios básicos da Lógica, levou tal discussão além, afirmando serem o ser e o pensar a mesma coisa. Isto implica em que, ao pensar, o ser é e se manifesta pela linguagem, segundo princípios lógicos.
Demócrito e seus seguidores, a partir de sua teoria do atomismo, mudou o curso da discussão ao supor que a linguagem possuísse caráter convencional, uma vez que fora criada pelo homem para descrever as coisas ao seu redor, porém, considerou que os nomes surgiam da impressão que tinha a alma humana dos átomos da superfície das coisas.
Entre os pós-socráticos as considerações de destaque acerca do signo são de Platão e Aristóteles.
Platão, para quem o mundo real era uma pálida imitação do mundo das idéias, considerou, através, principalmente, do Diálogo de Crátilo, que a linguagem vem da natureza das coisas. E que essas mesmas coisas deverias ser nomeadas, imperfeitamente, por um legislador, dialético, dotado do dom de apreender, de tudo, sua natureza essencial.
Aristóteles, em oposição aos ideais platônicos, acreditava num mundo perceptível sensorial. Defendia que as funções intelectuais do homem possuíam caráter político, e deveriam ser desenvolvidas em sociedade. Dessa forma, a linguagem era fruto do convencionalismo - em que as categorias do pensamento coincidiam com as categorias da linguagem - e representaria a realidade na qual os homens se inseriam.
Para os sofistas o signo exercia uma função representativa sim, mas não a de representar a realidade ao redor, isto, porque, para eles, a linguagem não possuía compromisso algum com a verdade ou realidade circundante. No entanto, foram os Estóicos os primeiros a oferecer ao mundo uma teoria que considera três componentes integrantes do signo: o significante, o significado (ou sentido) e o objeto externo (referido).
Na Idade Média, Santo Agostinho retoma o caráter triádico do signico estóico.
Nessa mesma época, algumas teorias ganharam relevância: no período da escolástica, houve, por parte das autoridades clericais, uma tentativa de conciliar os pensamentos cristãos com a filosofia grega, principalmente a aristotélica. Inicialmente, a discussão se deu em torno dos universais e dizia respeito à questão do status ontológico e da relação entre os signos para conceitos genéricos e sua referência. O termo universal designava conceitos (idéias) de caráter geral. As correntes do realismo e nominalismo surgiram daí. A primeira afirmava serem os universais coisas reais, cuja existência estaria na pluralidade dos objetos individuais. A segunda, ao contrário, afirmava que só os indivíduos existiam na natureza, e que os universais seria apenas os nomes; as emissões vocais.
No séc. XVI, após o rompimento do pensamento filosófico com as doutrinas escolásticas, surgiu, na Península Ibérica, um discípulo de São Tomás de Aquino, João Poinsot (1589-1644), conhecido como João de São Tomás, que lecionara na Universidade de Salamanca e deixara um Tratado sobre os signos no qual fazia uma síntese filosófica entre a escolástica e a filosofia grega. Nele, propôs que a relação entre o signo e a capacidade cognitiva pode ser tanto formal quanto instrumental. Na primeira, o signo representa a si mesmo, na segunda, representa outra coisa, podendo fazê-lo por convenção ou costume.
Para o racionalismo francês de Descartes (século XVII) a estrutura do pensamento e da razão é comum a todos os homens, enquanto que a diversidade das línguas é apenas um fenômeno superficial porque os sons variam e as idéias são invariáveis. Ao priorizar o conhecimento intelectual sobre a experiência perceptiva, sobrepôs o sentido (conceito) à referência (coisa).
A escola francesa de Port-Royal desenvolveu uma semiologia que teve grande influência sobre o pensamento racionalista. Foram seus principais representantes: Antoine Arnauld (1612-1694), Claude Lancelot (1616-1695) e Pierre Nicole (1625-1695) que nos legaram dois textos fundamentais: a Grammaire générale et raisonnée (por Arnauld e Lancelot, em 1660) e La logique ou l’art de penser (por Arnauld] e Nicole, em 1662). Tal semiologia está fundamentada no modelo diático e mental do signo. Nele, estão combinadas a idéia da coisa que este representa e a idéia da coisa representada; ou, um par de entidades conceituais, em que, o significante é uma imagem do som.
Considerado um dos fundadores da lógica simbólica, o alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) se concentrou nos signos visuais e escritos por tomá-los como caracteres que seriam representações mentalmente visíveis dos conceitos, antecipando em dois séculos as considerações signicas a serem feitas por Peirce.
Por fim, para Charles Sanders Peirce (1839-1914), o signo, seria uma combinação triádica, em que um dos elementos é o objeto, cujo sentido é construído por meio do representamen (a própria palavra) e do interpretante (idéia mental do intérprete).
Bibliografia Consultada.
* Além das sugeridas pelo Lingüístic@.com
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964.
BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. Trad. Izidoro Blikstein. 11 .ed. São Paulo : Cultrix, 1996.
Filosofia da Linguagem. Tradução Álvaro Cabral. Zahar editores, Rio de Janeiro.
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica e Filosofia. Trad. Octanny Silveira da Mota e Leonidas Hegenberg. 2. ed. São Paulo : Cultrix/ EdUSP, 1975.
PLATÃO. Teeteto. Trad. C. A. Nunes. Belém : Univ. do Pará.
SILVA, Deonísio. De onde vêm as palavras. 5. ed. São Paulo : Mandarim, 1997.
SOUSA, Maurício de. Mensagem de Paz. In: ––. Mônica. São Paulo: Globo, abril 1999, p. 53-62.
2 comentários:
Obrigado por Blog intiresny
hi, new to the site, thanks.
Postar um comentário