terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Relações sintagmáticas e relações associativas (ou paradigmáticas).

Deste duplo ponto de vista, uma unidade lingüística é comparável a uma parte determinada de um edifício, uma coluna, por exemplo; a coluna se acha, de um lado, numa certa relação com a arquitrave que a sustém; essa disposição de duas unidades igualmente presentes no espaço faz pensar na relação sintagmática; de outro lado, se a coluna é de ordem dórica, ela evoca a comparação mental com outras ordens (jônica, corintia, etc.), que são elementos não presentes no espaço: a relação é associativa.(CLG, p. 143).


Ao comparar as duas naturezas de relações das unidades lingüísticas com uma coluna que sustém uma arquitrave de uma determinada parte de um edifício Saussure nos deu elementos analógicos para facilitar a compreensão de como estas relações ocorrem num dado momento de fala.

Ao referir coluna e arquitrave ele nos faz pensar em dois eixos; um vertical e outro horizontal, onde o primeiro eixo representa as relações associativas, ou paradigmáticas, e o segundo, as relações sintagmáticas.

Quando afirma que essa disposição de duas unidades igualmente presentes no espaço faz pensar na relação sintagmática, ele expõe a natureza das relações no eixo sintagmático, uma vez que nos faz pensar que, para que ocorram tais relações, se faz necessária a intervenção de um eixo sobre o outro; o eixo sintagmático acontece, se realiza, em função linear do tempo e com base no eixo paradigmático que o sustém.

Por último, com a afirmativa de que se a coluna é de ordem dórica, ela evoca a comparação mental com outras ordens (jônica, corintia, etc), o mestre revela o caráter associativo das relações paradigmáticas.

Saussure imaginou que esses dois eixos, coluna e arquitrave, funcionariam na mente do falante. A coluna – eixo paradigmático - corresponderia ao arquivo ou acervo lingüístico que cada falante trás de sua língua e que se relacionam, por associação, na memória. A arquitrave corresponderia às regras de uso da língua, que nos faz buscar um elemento no eixo associativo e lançá-lo ao eixo dos sintagmas de forma opositiva. Logo, se percebe que, ao escolher, por exemplo, entre todos os verbos apenas um que melhor se encaixe com a proposta semântica da mensagem, descarta-se, automaticamente, a utilização de todos os outros verbos com potencialidade para ser aplicado na situação de fala. A essa exclusão Saussure chamou: in absentia. Porém, ao se lançar este mesmo verbo na arquitrave – eixo sintagmático; das relações opositivas – faz-se necessária a observação de sua relação com os demais elementos da oração; é na presença dos demais elementos que se consolidará a escolha e se dará a aplicação do mesmo. A essa verificação com compromisso semântico o mestre chamou: in presentia.

No eixo associativo as unidades lingüísticas são organizadas mnemonicamente a partir de um ou mais elementos comuns. Essas associações se verificam no nível de signo, significado e significante.

No eixo sintagmático as unidades lingüísticas se relacionam de forma opositiva após terem sido escolhidas do eixo das associações e mantêm, umas com as outras, um compromisso global com a semântica textual.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Sincronia e Diacronia: aspectos estático e evolutivo da língua.

Bom, após um “curto” período de “férias”, estamos aqui, novamente, para retomarmos os nossos assuntos lingüísticos. E assim, sem mais delongas, vamos aos conceitos saussurianos de sincronia e diacronia...

Para Saussure, havia duas formas da ciência lingüística observar a língua: em sua época e através do tempo. O único problema da Lingüística, com relação a este ponto, seria justamente o fato da língua ocorrer, ao mesmo tempo, em seu tempo e ao longo dele. O fato é que, se houvesse a possibilidade de se considerar cada coisa da língua em seu tempo e através do tempo, de forma que, de nenhum ponto de vista, uma coisa tivesse proeminência sobre a outra, a lingüística teria sido considerada uma ciência simples para o mestre de Genebra (ELG p. 79).

Porém, não é o que acontece. A língua, ao mesmo tempo em que ocorre no presente relacionando idéias e formas de modo aparentemente estático, atualiza-se, passando do presente ao passado. Sua ocorrência se dá numa série de sucessões de estados lingüísticos, através do tempo. Desta forma, a lingüística se obriga a empregar dois pontos de vista, aparentemente dissociáveis, para analisar um mesmo objeto.

Saussure comparou a situação da língua e do lingüista diante do fator tempo com uma partida de xadrez (CLG p. 104/105), e desta forma, ilustrou qual poderia ser a melhor saída para o aparente impasse.

Considerando o jogo no momento exato em que chega um observador, pode-se daí fazer algumas considerações elucidativas a respeito do estudo da linguagem. Para tal observador, a posição atual assumida pelas peças, no tabuleiro, lhes dá uma noção exata da situação do jogo. Sua percepção de tal situação independe da forma como uma peça ou outra evoluiu dentro da partida até que assumisse a posição atual. Da mesma forma, para o cientista lingüístico compreender a língua e sua relação com o sistema é dispensável que se dedique a investigar o modo e os motivos pelos quais a língua observada alcançou a forma em uso no momento de sua observação. Essa visão estática, desvinculada das ocorrências anteriores que se deram ao longo do tempo é uma visão sincrônica. Uma abordagem diacrônica, retomando o jogo de xadrez, seria aquela que permitiria ao observador conhecer cada lance da partida até que as peças assumissem a posição atual. Tal observação o daria informações sobre as ocorrências. Sobre como um movimento de uma peça levou a outro sucessivamente e não mais sobre a situação atual do jogo. O objeto, forçosamente, deixaria de ser a situação para ser a evolução; funcionamento e processo histórico.


Desta forma, definiu o mestre que seria mais pertinente observar a língua sob o aspecto sincrônico do seu funcionamento, que do aspecto diacrônico para se obter como efeito uma melhor compreensão do mecanismo lingüístico.

Bom, é isso aí! Em breve estaremos pensando sobre os eixos sintagmático e paradigmático. Até lá!

sábado, 17 de novembro de 2007

Língua x Fala

Bom, agora já temos subsídios suficientes para compreendermos as dicotomias saussurianas, que impressionaram mais pela sua complexidade que pela novidade no método de abordagem.

O pensamento do mestre à cerca de língua e fala não é simplesmente de que ambos são, juntos, os componentes da linguagem. Seu pensamento vai além, porque aborda a linguagem como algo que se divide em língua e fala, ao mesmo tempo, onde língua e fala se interligam (CLG, 17 e ELG, 24 e 60).

Uma coisa é tomarmos á língua, de forma autônoma, como ponto de partida - e nos formamos ouvindo que essa teria sido a opção saussuriana de abordagem - ou, ainda, investigarmos os fatos da fala isoladamente da língua, outra, é nos obrigarmos a admitir que a língua social, mental, não se perfaz sem a fala de forma que nem a alcançaríamos acaso fossemos uma sociedade áfona. Por isso, acreditou Saussure que a fala, através do signo, organiza o pensamento para a linguagem (CLG, 130/131 e ELG, 45). E fala individual - fenômeno acústico e psíquico - também não pode ser considerada sem a língua. Considerar apenas uma seqüência de ondas sonora - figura vocal - é possível, mas dirá respeito apenas às abordagens da Física.

Fica fácil perceber onde o lingüista amarrou seu burro, afinal, foi justamente diante de um objeto a ser analisado a partir de sua ligação com um outro objeto que, no momento de análise, estão forçosamente amalgamados (ELG, 21/22).

Quem fala emite um som sobre o qual já considerou mentalmente. O som do que se fala, antes de ser físico, buscou uma impressão mental com valor lingüístico; buscou o signo. Só irá falar quem já tem em sua mente uma organização de significados unidos aos significantes de forma arbitrária, e que, apesar disso, não poderiam facilmente se desunir dentro do cérebro. Significado e significante ficam assim, armazenados, esperando a hora de entrarem na ciranda do discurso através da fala. Assim é que se pode afirmar que a língua, nos fatos da linguagem, se encontra na mente do falante; onde estão associados os conceitos às imagens acústicas (CLG, 19/20 e ELG, 22).

Fica assim entendido: Linguagem é o resultado da interação entre língua e fala e não simplesmente da associação, e muito menos da união, entre ambos.

É através da fala que a língua se atualiza e se transmite através do tempo e das pessoas, das comunidades de fala, e que os pensamentos são organizados em signos dentro da mente. E é pela língua que a fala se programa e acontece, ao mesmo tempo, no presente e no passado. A fala projetaria a língua para os fatos da fala; para a comunicação. A língua, por sua vez, resultaria das impressões da fala sobre o exercício mental, do esforço mental em traduzir os pensamentos em signos.

À realização individual da língua através da fala Coseriu (1973:97) chamou norma, que nada mais é que a fala como, de fato, ela é. (Carvalho, 82).

E é isso! Espero você para pensarmos, juntos, a próxima dicotomia saussuriana: Sincronia e Diacronia.

Bibliografia Consultada.

* Além das sugeridas pelo Lingüístic@.com

CARVALHO, Castelar. Para compreender Saussure. Petrópolis-RJ, Vozes, 2002.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Linguagem...

Retomando o nosso bate-papo sobre lingüística saussuriana, é bom relembrar o conceito de linguagem para Saussure, bem como o quanto considerou desafiante para a lingüística a determinação de uma entidade lingüística devido à própria situação de complexidade da linguagem e, de como surge a necessidade de “dividir” os elementos formadores da linguagem numa tentativa de se compreender o elo forçosamente existente entre eles.

Segundo o CLG, para Saussure, a linguagem possui um lado individual, a fala, e um lado social, a língua. Desta forma, a linguagem implicaria num sistema estabelecido e numa evolução; isto porque é uma instituição atual, ao mesmo tempo em que é, também, um produto do passado (CLG,16 e ELG, 40).

De fato, é na situação de fala que a linguagem existe completamente. Porém, neste dado momento, todos os falantes colocam em prática uma língua dada; conhecida por todos e que é falada por sua comunidade desde sempre. Essa mesma língua é reinventada e atualizada no exato momento de sua execução através da fala, entretanto, no momento justo em que são pronunciados seus enunciados eles vão, na medida em que são articulados, ficando no passado.

A complexidade da linguagem não reside apenas no fato de ser uma entidade do presente e do passado, ao mesmo tempo. Sua condição dual também contribui para isso, o que dificulta para o lingüista a tarefa de determinar uma entidade lingüística (ELG, 21).

A dificuldade está justamente no elo entre os elementos constituintes da linguagem, que, separadamente, jamais pederiam ser representados por uma simples soma de fatores isolados e autônomos, e, sim, pela divisão de um só elemento em dois fatores autônomos e interdependentes. O que impossibilita ao pesquisador analisá-los separadamente como faria um químico ao analisar os elementos formadores do ar, por exemplo.

O fato, é que, de um lado tem-se um fenômeno vocal como tal; o som ou a figura vocal, e do outro um fenômeno vocal como signo. O primeiro; um fato físico e objetivo, o segundo; um fato mental e subjetivo. (ELG, 24/25).

Se, como se pensava mesmo no tempo de Saussure – e ainda pensam alguns na atualidade, a dualidade bifurcasse som e idéia, a lingüística estaria diante de um elemento simples, uma vez que sua tarefa consistiria em determinar o que é de ordem física e o que é de ordem psíquica na linguagem.

Porém, o que a lingüística tem a determinar, não está, para o mestre genebrino, num ou noutro elemento formador da linguagem, mas na ligação entre eles.

E é justamente na complicação que se estabelece, ao se buscar compreender em que momento e de que forma, exatamente, uma seqüência de ondas sonoras se torna capaz de representar uma idéia, um conceito mentalmente unido a uma imagem acústica, que parece ter surgido a necessidade saussuriana de separar e dicotomizar os conceitos já existentes.

E, assim, o fez Saussure: Dividiu o objeto de sua investigação sem, no entanto, desconsiderar o elo que faz com que cada elemento, abordado a partir de um dado ponto de vista, seja encarado como apenas um lado de uma mesma moeda.

A mesma lógica de investigação foi aplicada ao signo. O que torna mais fácil a compreensão da dicotomia Língua/Fala da qual trataremos na postagem à seguir.

Até breve!