quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Arbitrariedade absoluta e arbitrariedade relativa do signo.

Durante este período de ausência de post no blog estive analisando as entradas para ele. Mais de 80% delas advêm de pesquisas google feitas no Brasil e em Portugal, pelas quais sou muito agradecida. Tal análise me permitiu verificar quais os temas que mais freqüentemente motivaram essas buscas, e no que se refere aos assuntos já tratados, pude perceber que, sobre os signos, faltou esclarecer um pouco mais sobre a arbitrariedade, uma vez que não se falou sobre arbitrariedade absoluta e arbitrariedade relativa.
Bem, condição de arbitrariedade, como vimos, está diretamente ligada ao fato de o signo ser ou não motivado. Quando se fala arbitrariedade absoluta diz-se total falta de motivação, e, quando se diz arbitrariedade relativa, diz-se, também, motivação relativa ou, considera-se ter havido aí alguma ligação motivada entre significado e significante.
Mas, para que fiquem bem claros estes conceitos, e sobre eles não paire a menor dúvida, faz-se necessária à compreensão precisa do termo motivação dentro da perspectiva saussuriana.
Nós temos alguns elementos que nos servem de sinal; de representatividade de algo mais que não está explícito totalmente no elemento que o representa. Estes elementos representativos; sinais, tanto podem ser de caráter natural, quanto convencional.
Os sinais de caráter natural são aqueles que nos servem de indícios dos fenômenos naturais, como, por exemplo, a fumaça, que nos indica a presença do fogo, ou o trovão, que nos aponta para a possibilidade de chuva.
Os sinais de caráter convencional são aqueles que a sociedade contratou, concordou, a partir de algum momento, que seria o que melhor representaria, dentro daquela realidade de fala, uma idéia tal. O ícone, o símbolo e o signo são esses sinais criados dentro da coletividade de fala.
Por ser totalmente imagístico, o ícone é totalmente motivado, isto porque só se faz uma imagem a partir de um dado elemento. A foto de Maria deve consistir na impressão da imagem de Maria. O mesmo ocorre com a estatueta de um pássaro, ela deve consistir num conjunto de características inerentes àquele pássaro que pretende representar. O ícone deve impressionar os sentidos de forma tal que não permita confusão alguma no momento de identificá-lo e saber o que ele representa. Ele é motivado por aquilo que representa.
O símbolo é menos motivado, isto porque não tem que representar uma idéia exclusiva, mas uma idéia genérica. Dessa forma, uma pomba branca pode trazer a idéia de paz, seja lá o que for que a paz signifique para quem a percebe. De igual modo têm-se uma balança para representar a justiça, independente do conceito que cada indivíduo tenha deste termo. Assim, qualquer balança serve para trazer a idéia de justiça, mas, nem toda imagem de ave serve para representar um falcão. Por isso diz-se do símbolo que é relativamente motivado.
O signo não possui motivação nenhuma, por isso é totalmente arbitrário, porque o nome em nada está ligado ao objeto nomeado. Uma criança pode ser, ao mesmo tempo, um menino, uma garota, um guri ou um piá. Todos esses signos representam bem a idéia de infante. E, poderíamos, ainda, considerar que, cada idioma tem seu conjunto próprio de signos para designar a mesma idéia. Isto prova que o signo não está ligado ao que representa de forma motivada, mas imotivada.
Porém, quando temos o numeral dez e o numeral nove, temos dois signos absolutamente arbitrários. Mas, quando temos o numeral dezenove, a arbitrariedade torna-se relativa, isto porque dezenove é a junção de dois conceitos distintos que são representados por signos diferentes. O signo que surge dessa junção é fiel às idéias contidas nos signos anteriormente separados, e aí está a motivação.
No próximo post abordaremos a dicotomia langue/parole a partir do conceito saussuriano de linguagem. Até breve!