quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Definições de uma ciência moderna da linguagem


O Cours de Linguistique Générale de 1916 consiste na leitura que alguns dos alunos de Saussure fizeram daquilo que fora por ele postulado. Já os Escritos de Lingüística Geral são compostos por anotações feitas pelo próprio mestre e que, aparentemente, comporiam um esboço do que poderia vir a ser a sua própria publicação de um Curso de lingüística geral e, ainda, por textos contemporâneos de outros discípulos seus. Tanto em um quanto outro, está retratada sua grande preocupação em definir qual seria, exatamente, o objeto de estudo da Lingüística, e qual o melhor método de abordagem deveria ser adotado pela nova ciência.
Como um membro da corrente histórico-comparatista, Saussure acompanhou o desenvolvimento do estudo da linguagem de seu tempo. Foram de suma importância os estudos realizados até então. Elucidou-se muito a cerca da pluralidade dos idiomas e da semelhança entre alguns deles. A descoberta das semelhanças fonológicas apontou para comunidades de fala que poderiam ter sido uma só no passado, e que, posteriormente, se espalhariam pelos continentes europeu e asiático. Porém, tais descobertas mostraram-se mais significativas para os estudos antropológicos que para os estudos lingüísticos. Aliás, esse era um dos problemas da Lingüística de então, servir-se de condutor informativo para ciências paralelas. Para Saussure a razão para a existência autônoma da Lingüística ainda estava por ser apresentada. Enquanto questionava sobre os possíveis porquês de ainda não se haver determinado objeto e metodologia da ciência da linguagem até então, lançava, aos alicerces dos estudos contemporâneos da linguagem, sua pedra angular. Ocupou-se com a necessidade de se separar os fenômenos interno e externo da língua, definindo seu caráter dual; psicológico e físico. Defendeu a análise do fenômeno lingüístico a partir de um instante específico de ocorrência de fala (sincrônico); de um dado estático, e não mais do ponto de vista de sua evolução no tempo (diacrônico), como faziam os comparatistas. Considerou as ocorrências dos fatos lingüísticos de forma encadeada, funcional e estrutural, como em um sistema, em que um elemento é interdepende do outro para realizar sua própria função e colaborar na função de todo o sistema. Afirmando, ainda, que cada “peça” ou elemento dessa cadeia de relações só é igual si mesma em função e posição e a nenhum outro elemento nesta relação. Teorizou sobre a arbitrariedade e a dupla face psicológica do signo - em que um signo e sua significação fazem parte do domínio psíquico interno e um signo (uma sucessão de ondas sonoras), ou uma figura vocal, configura o domínio psicológico de ordem externa-. E, assim, mesmo sem trazer à luz o livro que intencionara publicar e que traria novas diretrizes dos estudos lingüísticos, como teria confessado através de epístola ao seu amigo parisiense Antoine Meillet (ELG, 15), conseguiu tirar os estudos da linguagem do campo das especulações das mais variadas áreas afins para dar-lhes caráter cientifico próprio e autônomo.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Lingüística, a ciência das oposições inta-sistêmicas.




Saussure pensou sobre os fenômenos da linguagem durante o período em que manteve a cátedra de gramática comparada, ou de Lingüística Geral, como era corrente rotularem, na época, os estudos lingüísticos na França, Alemanha e Inglaterra. Antes de tudo, ele foi um filósofo da linguagem, buscando entender seu funcionamento, sua função, sua origem e essência. Suas reflexões abrangem efetivamente três campos do saber; a epistemologia – analisando a possibilidade de uma prática científica; a especulação analítica ou filosofia da linguagem e a reflexão prospectiva sobre a disciplina ou epistemologia programática em que apostava numa ciência futura. Seus pensamentos acerca da linguagem estavam fundamentados na epistemologia da gramática comparada (épistémè do séc XIX) e na epistemologia da filosofia da linguagem da segunda metade do séc XVIII. Assim, houve uma reorganização da ciência lingüística que passa a tratar sincronicamente da semântica e diacronicamente, da fonologia.
Acreditou o mestre de Genebra que a lingüística futura deveria recuperar os objetos tradicionais da morfologia, lexicologia e da sintaxe bem como os da retórica e estilística. Propôs um estudo unificado desses objetos com base no princípio de opositividade intra-sistêmica, em que cada elemento encontra seu valor na relação de oposição que estabelece com os demais elementos dentro do sistema lingüístico.
Apesar do Cours de Linguistique Générale de 1916, é nos seus manuscritos que seus pensamentos fluirão de forma mais límpida e profunda à cerca dos critérios a serem adotados para que se fundamente um estudo científico da linguagem. Saussure, de próprio punho, apesar das notas fragmentárias, mostrou-se menos categórico quando revela suas dúvidas e pensamentos sobre os pontos fundamentais do estudo lingüístico, e mais radical ao tecer críticas à falta de reflexões epistemológicas que caracterizavam a Lingüística de seu tempo.

sábado, 11 de agosto de 2007

O gênio genebrino

Ferdinand de Saussure, 26 de novembro de 1857 (1857-1913).




Nasceu em Genebra, proveniente de uma família francesa que contava com cientistas como geólogos, naturalistas e gramáticos. Ainda jovem, aprendeu latim, alemão, inglês, grego e sânscrito. Em Genebra, deu início aos estudos de Química e Física logo abandonados para que pudesse dedicar seu tempo aos estudos da linguagem. Foi a Leipzig e a Berlin, onde estudou o antigo persa. Em 1878 publicou sua fundamental Memória sul sistema il persiano delle vocalli nelle lingue indoeuropee na qual postula a existência das entidades vocálicas sob o ponto de vista estrutural e não simplesmente vocálico - com exceção desta, quase nada mais foi publicado por ele -. Em Paris, lhe ofertaram a cátedra de gramática comparada, que manteve entre os anos de 1906 e 1911. Durante esse período, a partir de anotações feitas no decorrer de suas aulas, seus discúpulos Charle Bally e A. Sechehaye com a colaboração de A. Reindlinger, Payot, Lausanne-Paris publicaram postumamente o Cours de Linguistique Générale, obra fundadora das ciências humanas do século XX.
Em 1996, num anexo da residência de Saussure, em Genebra, foram descobertos textos de sua própria autoria que deveriam compor um livro sobre lingüística geral. Tais textos encontram-se depositados na Biblioteca pública e universitária de Genebra e publicados nos
Escritos de Lingüística Geral, de Ferdinand de Saussure, organizados e editados por Simon Bouquet e Rudolf Engler, editora Cultrix.
O Lingüística.com
deverá trabalhar e analisar os conceitos lingüísticos à partir do diálogo entre as duas obras supra citadas.